terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Old Goa

Old Goa é hoje em dia uma pequena vila que não transparece a grandiosidade de outros tempos. Antes da chegada dos portugueses, que a conquistaram no início do século XVI, a cidade tinha já a sua importância pois era a segunda cidade do rico sultanato de Bijapur. Situada na província de Goa, Índia, nas margens do rio Mandovi, a cerca de dez quilómetros de Panaji, a actual capital da província, Old Goa atingiu o seu esplendor no início do século XVII.


Várias igrejas, mosteiros e conventos de diferentes ordens religiosas, a maior parte dos quais construídos por portugueses, alguns de dimensões inesperadas, foram erigidos ao longo dos séculos XVI e XVII, estando agora uns em mau estado de conservação e outros completamente destruídos. Convém referir que os primeiros religiosos a chegar a este sítio foram os franciscanos, pelo que é obrigatória uma visita ao Convento de São Francisco de Assis, um dos edifícios mais interessantes e mais bem preservados de Old Goa. 


Uma das figuras mais ilustres daquela província é São Francisco Xavier, santo padroeiro de Goa, que tem associada uma curiosa história, ou milagre, relacionada com a sua morte. Dois meses após ter falecido na China, em 1552, os restos mortais do santo foram transladados para Malaca e, estranhamente, chegaram a esta cidade em perfeito estado de conservação, sem qualquer tipo aparente de decomposição. Quatro anos mais tarde, já em Goa, o cadáver foi minuciosamente observado pelo médico do vice-rei que constatou que este não tinha sido embalsamado e que, espante-se, ainda mantinha intactos os órgãos internos. Diz-se ainda que nesse exame o clínico pediu a dois jesuítas para introduzirem os dedos em dois estranhos furos que o corpo apresentava. Quando os retiraram foi com estupefacção que viram os dedos cobertos de sangue fresco. Os seus restos mortais, depois de várias profanações ao longo dos séculos, repousam agora devidamente protegidos na basílica do Bom Jesus em Old Goa.


Muitas das construções têm o acesso condicionado pois a exuberante vegetação invadiu-as, tomou posse delas. Essa invasão proporciona, num dia de sol, como aquele em que a visito, jogos de luz e sombra que tornam o lugar absolutamente mágico. Passear ao longo da cerrada vegetação, ladeado pelas enormes pedras provenientes das ruínas das construções centenárias faz-nos nostalgicamente reflectir em mundos que já não existem, em pessoas que por ali viveram com todas as suas tristezas e alegrias.


O acesso a Old Goa é muito fácil pois há diariamente vários autocarros públicos que a ligam a Panaji. Uma outra opção, aliás bem mais divertida e versátil, consiste em alugar uma motorizada e fazer o rápido trajecto por estradas manhosas entre as duas povoações. Nesta última opção um dos cuidados a se ter é estar permanentemente atento ao movimento das vacas, ali sagradas, que volta e meia se põem a descansar no meio da estrada, de preferência logo após uma curva de fraca visibilidade. Não é raro verem-se turistas a conduzir estas motas com vários curativos no corpo… De qualquer forma, com ou sem vacas, uma visita a Old Goa não se pode perder. Nem que seja pelos feitos dos nossos antepassados, mais ou menos aventureiros, que nos legaram aqui um excelente exemplo, “ilha ilustríssima de Goa” segundo letras de Camões, que nos incutem um sentimento de grandeza, de orgulho por aquilo que outrora conquistámos.


Não posso terminar, pois isso não seria justo, sem fazer uma alusão à extrema simpatia deste povo goês que só por si justificaria amplamente a viagem.  



fotos: migalha, lda

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