terça-feira, 22 de novembro de 2011

The Corrections


The Corrections, de Jonathan Frazen, passou despercebido entre nós até surgir em Portugal o seu mais recente livro, Liberdade (escrito quase uma década depois do anterior). O escritor, que gosta de abordar detalhada e ironicamente as personagens das suas obras, tem a habilidade de nos fixar nas suas narrativas utilizando uma técnica muito comum em best sellers que consiste em interromper bruscamente num determinado momento a acção e em só a retomar vários capítulos mais tarde. É óbvio que isso em nada diminui a consistência da sua escrita mas esta apetência para agradar “quer a um público literato quer popular” tem-lhe valido algumas críticas menos agradáveis. No entanto, utilizando esse “estratagema” e conseguindo uma interacção perfeita entre os espaços da acção e os diversos tempos da narrativa, e é com grande mestria e eficácia que ele interliga o presente e o passado, Jonathan Frazen, um escritor bastante mediático nos Estados Unidos, faz com que o ávido leitor queira sempre mais e mais até às páginas finais! Em The Corrections o autor aborda, com humor subtil, a temática de uma algo conflituosa família americana, conservadora, do midwest, em finais dos noventa do século passado, os Lamberts. Albert, o patriarca, engenheiro ferroviário, inventor, sofre de Parkinson num estado avançado pelo que tem já grandes dificuldades de mobilidade, assim como algum grau de demência, enquanto Enid, sua esposa, que suporta o enorme desgaste da vida conjugal devido à terrível doença do primeiro, tudo faz para conseguir reunir em sua casa pelo Natal, talvez pela última vez, todos os seus três filhos. Mas essa não será uma tarefa fácil. Gary, o primogénito, executivo, deprimido, sofre uma tremenda resistência a essa ideia por parte da sua mulher, Caroline, algumas das sequências dessa “guerrilha” são hilariantes, pois que esta não “morre de amores” pela família Lambert. Chip, o eterno favorito do pai, recentemente expulso da faculdade onde leccionava, por se ter envolvido com uma estudante, enreda-se profissionalmente num esquema fraudulento pela Internet (e há aqui uma crítica mais do que implícita ao crash do início do novo milénio das famosas “dot-com”) com o marido da última amante e vai temporariamente viver para a Lituânia. Denise, a filha mais nova, talvez a personagem mais complexa e excitante do livro, reputada chef, responsável por um dos restaurantes mais badalados de Filadélfia, envolve-se intimamente com a família do seu patrão, o que, mais tarde, acaba por lhe valer o emprego. Sendo esta a mais sensível aos problemas dos pais é aquela que entre os irmãos mais luta para ver toda a família junta no Natal, pese embora a sua precária condição emocional. Mas Denise, saberemos no final, é também a responsável por alguns equívocos nunca verdadeiramente esclarecidos no interior do seio familiar… Jonathan Frazen consegue, de uma forma aparentemente simples, apresentar-nos com mestria os traços psicológicos de cada um dos personagens deste livro e a forma como se entrelaçam é bastante cativante e consistente. Não os julga, nunca o faz, expõe-os antes sem qualquer juízo de valores, sem se preocupar com avaliações de carácter moral ou outros. Comovente o desenvolvimento da doença de Albert e todas as dificuldades pelas quais a família passa com a mesma:

The human species was given dominion over the earth and took the opportunity to exterminate other species and warm the atmosphere and generally ruin things in its own image, but it paid this price for its privileges: that the finite and specific animal body of this species contained a brain capable of conceiving the infinite and wishing to be infinite itself.

O escritor assina aqui uma inteligente crónica social que a ninguém deixa indiferente. Ou, para além do prestigiado National Book Award, não tivesse vendido já mais de três milhões de exemplares só nos Estados Unidos da América.