quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Oaxaca e Mont Albán

Em 2006 a cidade de Oaxaca foi palco de um grave conflito que começou por ser um simples protesto do sindicato dos professores contra o governador do estado mas que acabou da pior maneira. O que então parecia uma manifestação contestatária relativamente pacífica descambou, vários meses depois, num movimento de desobediência civil que levou ao cerco da cidade pelo exército mexicano e que, mais tarde, terminou com uma intervenção repressiva e sangrenta. Aquela tão pouco conhecida cidade aparecia então quase diariamente nos media internacionais. Tempos esses de conflito que, pelo menos aparentemente, estão já sanados.


A cidade de Oaxaca, património da humanidade pela UNESCO, situada na zona meridional do México, a pouco menos de 500km da capital, uma monótona viagem de seis horas e meia de autocarro, é um local encantador de visita obrigatória para quem vai conhecer aquele país. Uma pérola meio escondida na imensidão da América Central.



Fundada em terras astecas pelos espanhóis em 1529 é hoje em dia uma lindíssima e animada cidade de arquitectura colonial especialmente bem conservada. A enorme praça do Zócalo, por vezes palco de interessantes concertos gratuitos, ladeada por arcadas de pedra que albergam agitados cafés, restaurantes e lojas variadas, embelezada por frondosa vegetação e pela animação contínua proveniente de uma bem diversificada feira, é o centro nevrálgico desta cidade. É com prazer que se toma aí ao fim da tarde um copo de mescal, ou uma Corona, enquanto se aprecia toda aquela alegre azáfama e se trocam impressões com os simpáticos e sempre prestáveis autóctones. 



Mas a cidade tem muitos mais pontos de interesse para o turista para além dessa grandiosa praça. O palácio do Governo, a vizinha praça da Alameda, a catedral de Oaxaca, a igreja de Santo Domingo, a basílica da Nuestra Señora de la Soledad, o teatro Macedonio Alcalá, as movimentadas ruas com as cores berrantes dos abundantes palacetes senhoriais, muitos dos quais albergam no seu interior surpreendentes jardins, o Jardín Etnobotánico, etc., etc., e, visita fundamental, o museu das Culturas de Oaxaca, excelente quer no conteúdo quer na forma das exposições, instalado no antigo convento dominicano de Santo Domingo.



O mais surpreendente é que a cidade não esgota os seus abundantes recursos arquitectónicos num rico passado colonial pois a arquitectura de interiores contemporânea é verdadeiramente surpreendente, a que talvez não seja estranha a faculdade de arquitectura, sedeada numa aristocrática casa de cor vermelha, da Universidade Autónoma Benito Juárez (ilustre personagem local, foi governador do estado e, mais tarde, em 1861, presidente da república). O encanto desta urbe maximiza-se nos muitos espaços de convívio preguiçoso em que o tempo parece absolutamente paralisado e o ar quente e seco nos retiram quaisquer veleidades de stressadas iniciativas.

 

Mas uma viagem a Oaxaca não se esgota na cidade propriamente dita. Através de transportes públicos uma ida a Mont Albán demora, aproximadamente, 20 minutos. Antiga capital zapoteca deverá ter sido originalmente erigida duzentos anos antes de Cristo. Quinhentos anos mais tarde a população desta cidade deveria rondar os vinte e cinco mil habitantes. Pensa-se que entre os séculos VIII e X terá sido definitivamente abandonada. Em tempos foi o centro de uma civilização bem organizada com edifícios e templos grandiosos cheios de cor, cuja arquitectura sofreu decerto influências de Teotihuacán, magnífico sítio arqueológico pré-colombiano perto da cidade do México.



Situado no cume de uma montanha o espaço goza de uma tranquilidade surpreendente, tanto mais que não é dos sítios mais visitados pelas hordas de turistas que sempre poluem o ambiente destes locais. Assim, pode-se deambular por entre as ruínas e apreciar as grandes praças, os palácios, as pirâmides, os túmulos e os campos de jogos com total serenidade. Tempo para reflectir sobre aquelas civilizações há muito extintas e sobre o riquíssimo legado cultural que, felizmente, nos deixaram.



Mas não se pode "abandonar" Oaxaca sem antes se visitar o famoso cipreste da igreja de El Tule, que fica a dez quilómetros de distância da cidade. A vetusta e sagrada árvore tem entre 1400 a 3000 anos de idade e um tronco com, aproximadamente, 12 metros de diâmetro! É um local de peregrinação absolutamente obrigatório. 



fotos: migalha, lda