segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Half of a Yellow Sun



Half of a Yellow Sun, 2007, Harper Perennial, o símbolo da bandeira da República do Biafra, também presente nas mangas das camisas do seu depauperado exército, da nigeriana Chimamada Ngozi Adiche, um nome a ter em particular atenção no futuro, prémio Orange 2007, “devora-se” da primeira à última linha. É um livro centrado em torno da amizade, das relações entre os diversos personagens, da cultura africana como contraponto da dita ocidental

“Of course, of course, but my point is that the only authentic identity for the African is the tribe, Master said. I am Nigerian because a white man created Nigeria and gave me that identity. I am black because the white man constructed black to be as different as possible from his white. But I was Igbo before the white man came.”

e da rápida degradação de qualidade de vida que a luta pela secessão do povo igbo, no sudeste da Nigéria, vai trazer. A história centra-se em torno de cinco personagens: Ugwu, um rapaz que provém de uma aldeia miserável e que vai trabalhar para Nsukka como empregado doméstico de Odenigbo, professor universitário idealista; Olanna, filha de um proeminente general que abandona a sua vida de privilégio em Londres/Lagos para ir viver com o último; Kainene, a problemática irmã de Olanna, e Richard, um inglês interessado em arte Igbo, a viver em Lagos com uma inglesa expatriada, símbolo vivo do antigo poder colonial britânico na Nigéria, e que se apaixona por Kainene. O chegar da guerra e a extrema fome que daí advém, que felizmente Adiche não testemunhou pessoalmente, fizeram-me recordar as terríveis imagens que vi na televisão no final da década de sessenta do século passado com as crianças de abdómen disforme, as moscas em volta das pessoas quase inanimadas, a falta de expressão nos olhos dos refugiados, a miséria extrema de um povo a definhar. Nunca mais me esqueço que nos anos seguintes, ainda miúdos, quando víamos alguém muito magro comentávamos com troça “eh pá, aquele vem do Biafra!”. Um conto apaixonante com uma prosa que “agarra” e nos absorve para dentro da acção, sempre centrada nas relações inter-pessoais dos personagens, e não na guerra, embora esta, com os seus horrores e privações, esteja sempre presente, que nos faz sentir como nossas as alegrias e as amarguras e infortúnios daquelas gentes em conflito consigo e com o que as rodeia. A tristeza e a esperança andam aqui sempre de mãos dadas através do génio desta já grande contadora de histórias que vem da Nigéria. Talvez porque escreve, ou tenta, segundo as suas próprias palavras, com emotional truth, embora também não saiba muito bem o que isso significa, transmite-nos uma paixão pela escrita que nos leva a aderir incondicionalmente à mensagem que pretende passar. No final é-nos revelado o enigmático,

“The Book: The World Was Silent When We Die”

Um livro com um tempo muito próprio, suave e bem escrito. Não sei se está traduzido para português.

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