segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pingvellir, Islândia

Património mundial da UNESCO, Pingvellir, que não se pronuncia como se escreve, é um local emblemático para os islandeses, ou não fosse declarado parque nacional em 1930, um dos primeiros sítios a obter esse estatuto na Europa (“…um local sagrado protegido, uma propriedade da nação islandesa sob a supervisão do parlamento, que nunca poderá ser vendido ou hipotecado.”, dita a lei dessa altura).  


Localizado a nordeste da cidade de Reykjavik é facilmente acessível por estrada, embora esta no Inverno possa ser muito traiçoeira por causa do gelo. Se bem que toda a ilha seja atravessada por um Rifte, de onde divergem as placas tectónicas norte-americana e euro-asiática, é aqui que os vestígios da sua presença, e expansão, aumenta cerca de um centímetro e meio por ano, se manifestam de uma forma minimamente perceptível ao visitante.


O enorme parque engloba um vale com cerca de quatro quilómetros de largura e quarenta metros de profundidade, em relação à cota do terreno envolvente, o maior lago do país, Pingvallatan, o cone do vulcão Skjaldbreidur, já extinto, e o rio Öxará, com as suas pequenas quedas de água gelada. Se bem que há muitas maneiras de se entrar no parque talvez a mais interessante seja a de começar pelo bonito e bem documentado centro turístico, cuja abordagem na comunicação dos seus conteúdos nos atrai e elucida de uma forma cativante.


Aí, para além de se ter uma impressionante visão sobre a vastidão do local, podemos aprender muito sobre Pingvellir, que não se restringe apenas à beleza natural do sítio. É que Pingvellir, que significa, numa tradução simplista e literal, planície da assembleia, era, entre os anos 930 e 1798, o local onde o Althing, ou “assembleia” islandesa, se reunia. Era aqui que os chefes e populações se encontravam todos os verões para discutir leis, resolver conflitos, socializar e aprofundar a sua identidade enquanto povo.


Após essa interessante e educativa visita o mais aconselhável é entrar no parque a pé através de uma estreita passagem que se desenvolve ao longo de uma enorme parede rochosa do rifte, a Almannagjá, com vários quilómetros de comprimento. Essa massa inerte basáltica, que parece que se vai desagregar a qualquer momento, é misteriosa e imponente. Seguindo esse percurso chega-se a Logberg, espaço onde presumivelmente eram feitos os discursos às massas.  


Embora não se vejam muito claramente os fragmentos de dezenas de antigos abrigos temporários dos clãs, construídos com pedra e turfa, estes locais estão relativamente bem documentados ao longo de vários painéis informativos. O famoso livro do século XII, Book of the Icelenders, Islendlingabók na língua nativa, que descreve os primeiros passos da história da Islândia, dedica uma parte da sua escrita à intensa procura por um espaço conveniente para albergar uma assembleia comunitária, que teria de se localizar numa zona facilmente acessível para todos. E de facto encontraram um lugar muito especial para o efeito.  


Aconselho vivamente, para quem tenha tempo, a passar lá um dia inteiro a deambular pela planície ao longo do rio Öxará. Na direcção do edifício de madeira da igreja, de 1859, pode ver-se a profunda fissura Flosagjá e, no seu extremo, a piscina de águas límpidas Peningagjá. Com ainda mais tempo o visitante pode optar, no verão, por pescar no lago Pingvallatan, mergulhar nas águas geladas do rifte Silfra, onde certamente se deslumbrará com a enorme visibilidade e com as impressionantes paredes verticais das duas placas tectónicas, ou optar por outras actividades ao ar livre.


Perto de uma outra entrada para o parque, mais a este ao longo da estrada principal, existe um pequeno café/restaurante/loja que tem, opinião muito pessoal, os melhores cachorros quentes da Islândia, que são aqui neste país uma verdadeira instituição. É um justo prémio para um dia bem passado no meio de tão rica história e deslumbrante natureza.


fotos: migalha, lda

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